Acabei de ler no Estadão (www.estadao.com) que a ANPG articulou uma greve para reivindicar aumento do valor das bolsas oferecidas pela a CAPES e CNPq. Eu devia ter parado alí, no fim da reportagem do Carlos Lordelo (http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,alunos-de-pos-convocam-greve-nacional-para-cobrar-reajuste-nas-bolsas,854142,0.htm). Entetanto, me dignei a ler os comentários dos leitores, logo abaixo. Vai aqui um deles, aquele que me faz estar aqui agora, triste e preocupada, escrevendo este post.
"Pois podem parar permanentemente, e se juntar à força de trabalho que
sustenta suas bolsas. Enquanto em muitos países se paga para estudar, aqui o
pagador de imposto te patrocina completamente, e ainda te dá uma bolsa que
alguns acham que deveria ser salário. Vão se catar."
Não identifco o autor para evitar problemas futuros, mas o comentário ainda está lá. Muitos acharão que a razão pela qual escrevo é a indignação com tal comentário absurdo, quando lipo por alguém que conhece a ciência e seus meios, mas essa não é a razão. Escrevo por preocupação. Esse comentário mostra a total ignorância do homem comum da nossa sociedade atual sobre o papel do pós-graduando; da relevância de seu trabalho para a sociedade e para o desenvolvimento de um país. Me preocupa o fato dele poder ser qualquer um, até o pai de uma criança sindrômica, o portador de uma doença grave, ou o paciente do SUS.
A ciência é feita por pesquisadores, cientistas bem formados, conscientes do seu papel cintífico e social, mas o fruto do trabalho por nós desenvolvido ha de ser julgado e aceito pela sociedade, ou não tem valor. Se o cidadão comum, que é o alvo principal e o beneficiado pelo nosso trabalho não entende o que fazemos, como vai poder julgar e decidir se quer ou não agregado à sua vida o avanço científico por nós proposto?
Concordo que é necessário o aumento do valor das bolsas. Defendo isso há anos, mas sou contra a tal greve. A bem da verdade, a greve não será sentida por ninguém, absolutamente ninguém. Onibus funcionarão, bancos funcionarão e hospitais funcionarão. Ò experimento do dia da greve será feito no dia seguinte. Essa greve, mal ajambrada e mal justificada, enfraquece ainda mais a moral já quase inesistente dos pós-graduandos brasileiros. (Deixarei para outra postagem minhas opiniões sobre a moral dos pós-graduandos e sua crescente desvalorização. Ainda há Orientadores que os chamam de "escravinhos"...). O fato aqui é que esse comentário deixa evidente a falha enorme da ANPG e de todas as Universidades em cumprir um dos seus papéis fundamentais: divulgar ciência; fazer da ciência algo palatável ao cidadão comum; atuar na educação da sociedade (...e assim também aprender com ela). É evidente que isso é necessário. Pergunte na rua, no onibus ou na padaria quem apoia o aumento do salário dos pós-graduandos? Acabei de fazer o teste aqui na padaria e a resposta mais comum obtida foi: o que é pós-graduando?
A ANPG deveria criar em todo o território nacional um programa onde cada pós-graudando tivesse que explicar para um cidadão comum o que é a PG, como funciona e para que serve. E se criassem uma cartilha? Colocassem uma explicação rápida no intervalo da novela das 8 na Globo? Criassem uma rede virtual para disseminar esses conceitos. Com o exemplo de popularidade obtida por campanhas publicitárias feitas nas redes sociais sem gaster nenhum centavo, não há desculpas. Quem não twittou, repassou, postou no FB as campanhas "fotografe a CET fazerndo m* no trânsito", "esta vaga não é sua nem por 1 minuto", "faça xixi no banho para economizar água", entre tantas outras??? Não acho difícil convencer pós-graduandos a participarem de uma campanha onde a única coisa que têm que fazer é escolher 1 pessoa e dizer para ela o que faz, como faz e porque faz.
O que falta ainda aos pós-graduandos é se fazerem respeitar. Não se pode zelar por algo que não conhecemos ou sabemos seu valor. Isso se aplica a tudo. Querem aumento, se façam necessários tanto quanto o onibus, o banco, o hospital. A sociedade não sabe quem voce é ou o que você faz por ela e não vai apoiar a tua causa. Eu não a culpo.
Ter a opinião pública do lado dos pós-graduandos é fundamental. Se não para aumentar o salário, para que a sociedade esteja preparada para fomentar e aceitar os avanços científicos, tecnológicos e sociais desenvolvidos pelos pós-graduandos brasileiros através de suas pesquisas; através das longas horas de dedicação exclusiva ao entendimento de uma hipótese. Tudo culmina com a necessidade de divulgação da ciência e dos cientistas.
Sabem o que me preocupa ainda mais com relação a esse comentário? Nenhuma réplica explica calmamente e claramente o que é a PG, para que serve ou como funciona...
E antes que saiam desta página: meu repúdio ao corte de mais de 20% no orçamento do MCT para este ano.
Até!
Um comentário:
Agência FAPESP – Qual pode ter sido a razão para essa transformação?
Clive Cookson– Os cientistas perceberam – certamente nos Estados Unidos e Europa, mas acho que no Brasil também – que é mais provável conseguir investimentos públicos e auxílios para fazer suas pesquisas na medida em que eles se tornam bons comunicadores. Na Grã-Bretanha os conselhos de pesquisa incluem explicitamente a comunicação dos resultados científicos como um dos critérios importantes para conseguir investimentos. De modo geral, podemos dizer que você tem mais facilidade para conseguir o investimento se você estiver preparado para comunicar. Isso é verdade para os pesquisadores, de forma individual, mas também em uma perspectiva mais geral: os pesquisadores sabem que a ciência como um todo terá mais apoio público se os cientistas gastarem um pouco de tempo e esforço para falar com jornalistas.
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